As barreiras que as mulheres enfrentam continuam a ser uma realidade impossível de ignorar

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“É para nós absolutamente claro que a igualdade de género tem necessariamente de envolver os homens. Precisamos de incluir todas e todos nas reflexões e ações de mudança”.

A frase é de Cláudia Ricardo, co-fundadora do Movimento LIFE, na sessão de abertura da Conferência:  "Liderança Feminina na Saúde: 50 Anos de Conquistas?", que decorreu no dia 16 de maio no Centro de Congressos de Lisboa.

Deixamos o discurso de Cláudia Ricardo na íntegra:

É com enorme satisfação que dou as boas-vindas a esta que é a segunda conferência promovida pelo Movimento LIFE. 

Este é um momento com grande significado para nós, porque, um ano depois do nascimento do LIFE, aqui estamos a demonstrar que o nosso empenho se mantém e que o trabalho feito ao longo dos últimos meses é para continuar, persistir, evoluir e crescer.

Quero desde já deixar o meu mais profundo e pessoal agradecimento às Embaixadoras do LIFE, que tornaram todo este caminho possível.   
Muito, muito obrigada!

Foi um ano de várias reuniões de trabalho, de amplos debates e de planificação de ações cada vez mais concretas.

Deparámo-nos com uma receptividade extraordinária ao nosso Movimento. Fomos percebendo um aumento significativo do interesse da sociedade civil, refletido em muitas interpelações que fomos recebendo: questões, inquietações e manifestações de disponibilidade para aderir a esta causa que é a da igualdade de género. A causa por uma sociedade mais justa e digna, em que os direitos humanos são cumpridos e respeitados.

Um tema de todos

Desde o primeiro momento que tentámos deixar explícito que este não é um debate entre mulheres, que este não é um propósito ou uma missão feminina. 

É para nós absolutamente claro que a igualdade de género tem necessariamente de envolver os homens. Precisamos de incluir todas e todos nas reflexões e ações de mudança.

Por isso mesmo, esta Conferência tem um painel integralmente dedicado a escutar os homens: qual o papel dos homens no impulso da igualdade de género nas lideranças?

Nunca alcançaremos a igualdade sem nos ouvirmos uns aos outros; nunca lá chegaremos sem colaboração e construção conjunta. No LIFE, somos um espaço de ação, diálogo e reflexão onde as vozes de todas e todos são ouvidas e respeitadas.

Igualdade de Género ainda não é uma realidade nas novas gerações

Sabemos que a igualdade de género ainda não é uma realidade : é isso que os dados nos mostram. E é por isso também que é para o futuro que olhamos, para os mais jovens, para os líderes de amanhã e das próximas décadas. Sem nunca virarmos as costas à ação no presente.

Dedicaremos parte da nossa tarde de hoje a apresentar e a debater um estudo que auscultou a opinião e perceção da geração mais jovem que trabalha no setor da saúde sobre as questões ligadas à igualdade de oportunidades e à igualdade de género na liderança.

Penso que os resultados nos mostrarão que a evolução tem sido lenta, que há ainda muitas barreiras, que ainda são sentidas muitas desigualdades. E o retrato da realidade percebido por mulheres e por homens é diferente. E é por isso mesmo que é tão relevante escutarmos os dois géneros.

Não quero escamotear os avanços alcançados nos últimos 50 anos, os mesmos 50 anos que marcaram o fim da ditadura em Portugal e que serviram de mote e inspiração ao título da nossa Conferência.

Teremos tempo de analisar os resultados deste estudo e de os debatermos em mais profundidade. Mas creio que, apesar dos avanços conquistados, fica notório que ainda há muito para ser feito. As barreiras que as mulheres enfrentam no caminho para a liderança continuam a ser uma realidade impossível de ignorar!

Na saúde, a nível global, sabemos que 75% do total da força de trabalho no é feminina, embora apenas 38% dos lugares de topo sejam ocupados por mulheres. 

Mas atenção! Escuto, com frequência, que há muitas mulheres nas empresas e nas organizações. O facto de haver muita presença feminina nas instituições, para mim, só torna mais evidente que há ainda disparidade de oportunidades. Deixo, por isso, a pergunta: Se há muitas mulheres, por que razão ainda existe sub representação nas lideranças?

Termino recordando dois dos princípios fundamentais do Movimento LIFE, que julgo que merecem ser sublinhados:

  • Seguimos o princípio de olhar para a realidade com base em factos e não em suposições, através de dados objetivos e de estudos fiáveis e concretos. Porque só conhecendo a realidade se pode agir para empreender mudanças.
  • Queremos capacitar as mulheres na saúde, proporcionando confiança e apoio para assumirem papéis de liderança. Procuramos inspirar e ser inspiradas por mulheres líderes na saúde, que servem também como modelos ou exemplos para futuras gerações. Para que nenhuma menina, jovem ou mulher veja o seu caminho diminuído ou coartado pelo seu género. 


Muito obrigada!

Cláudia Ricardo  
16 de maio de 2024