132 anos para alcançar a paridade entre homens e mulheres

As mulheres ainda enfrentam inúmeras barreiras no acesso a carreiras de topo e cargos de decisão.  Mesmo com mais habilitações do que os homens,  ainda assim elas estão claramente sub-representadas nos processos de tomada de decisão.

A área da saúde é predominantemente feminina, com as mulheres a representarem 75% do total da força de trabalho, mas a ocuparem pouco mais de um terço dos lugares de liderança.

Das conclusões das análises apresentadas pelo Movimento LIFE na sua sessão de lançamento, que decorreu no CCB, em Lisboa no dia 2 de março de 2023, destacamos:

  • Apenas 7% dos CEO das maiores empresas portuguesas são mulheres
  • Só há 21% de mulheres reitoras e presidentes nas instituições do Ensino Superior, em Portugal
  • A nível mundial, levaremos 132 anos para alcançar a paridade total entre mulheres e homens 
  • Há apenas 38% de mulheres em lugares de topo na área da saúde a nível global, embora representem 75% do total da força de trabalho neste setor
  • Movimento LIFE promoveu a reflexão com cerca de 30 mulheres líderes na Saúde em Portugal, que debateram sobre as barreiras e propuseram medidas e iniciativas
  • Portugal precisa de ter dados concretos da representatividade das mulheres em lugares de liderança na Saúde
  • Movimento LIFE vai realizar estudo sobre igualdade de género nas novas gerações que trabalham no setor da Saúde em Portugal, envolvendo mulheres e homens

Um dos estudos foi realizado pela Faces de Eva: Estudos sobre a Mulher/CICS.NOVA (NOVA-FCSH) e outro pela consultora GFK/Metris, também com base na auscultação de algumas dezenas de mulheres com experiência em liderança na Saúde.

As duas análises apresentadas apontam para a necessidade de se conhecer a realidade do setor da Saúde em Portugal. Só o conhecimento detalhado da realidade pode dar visibilidade ao problema da desigualdade de género e permitir definir linhas de atuação concretas que mudem a realidade para as gerações futuras.

Segundo a análise da GFK/Metris, há muita informação e múltiplas estatísticas, mas são dados desagregados e não sistematizados, que dificultam uma compreensão profunda da realidade. No fundo, há muita informação mas pouco conhecimento.

Por isso mesmo, o Movimento LIFE está a promover a realização de um estudo que ausculte as mulheres e homens com menos de 40 anos, que trabalham no setor da Saúde em Portugal. A ideia, a par de ter maior conhecimento da realidade, é permitir um retrato dos entraves ou impulsos que as mulheres mais jovens sentem, atualmente, na sua progressão de carreira. O intuito é também recolher contributos de todos sobre medidas ou políticas que possam ser promotoras da igualdade de género.

O Movimento promoveu também uma primeira reflexão com cerca de 30 mulheres de várias gerações com experiência em  liderança na Saúde, que são Embaixadoras deste Movimento. Foram analisadas as razões históricas e atuais para estarmos ainda distantes da igualdade de género e debatidas estratégias de desenvolvimento, para criar um futuro melhor para as novas gerações.

Dessa sessão de trabalho resultaram algumas recomendações:

  • A Educação é a chave para uma paridade efetiva:  é necessário promover a literacia, educação e formação em direitos humanos e igualdade de género, desde a escola primária até às universidades;
  • o Governo deve integrar a perspetiva de género em todas as suas políticas, na administração pública, nos orçamentos do Estado e na gestão financeira;
  • As empresas devem definir métricas de diversidade e inclusão, fazendo a sua constante avaliação e divulgando-as publicamente;
  • É urgente instituir medidas de tolerância zero para bullying e assédio moral e sexual no local de trabalho;
  • É necessário criar programas de mentoria e de empoderamento das mulheres, promovendo redes de apoio, formal e informal, e programas destinados ao acompanhamento individual;
  • É fundamental dar visibilidade pública às mulheres e à temática das desigualdades de género.

A igualdade de género é um assunto que tem de importar a todos: mulheres e homens. Importa a toda a Sociedade debater este tema para concretizar ações que mudem o panorama da desigualdade de género. Porque equipas de liderança diversificadas tornam melhor as organizações”, refere Cláudia Ricardo, co-fundadora do Movimento LIFE.

Outra das fundadoras, Isabel Henriques de Jesus, sublinha que “a ‘questão das mulheres’ mantém toda a atualidade e pertinência nos dias de hoje e deve ser integrada num contexto mais vasto de Direitos Humanos”. “Apesar de um caminho e evolução inegáveis, ainda há tentativa de silenciamento ou apagamento, ainda há condicionamentos vários, por vezes bem subtis. Os contornos são mais ou menos nítidos, mas a questão das mulheres não perdeu qualquer atualidade”.